Quem foi Tia Ciata

Hilária Batista de Almeida (Tia Ciata ou Aciata)

No Recôncavo baiano (Santo Amaro) dia 13 de janeiro de 1854 nasce Hilária Batista de Almeida, com 16 anos mesmo tão jovem, já participara da fundação da Irmandade da Boa Morte, em Cachoeira, outra cidade do Recôncavo baiano. A Irmandade existe até hoje é do seu acervo. Filha de Oxum, sendo iniciada no santo na casa de Bambochê, da nação Ketu. Aos 22 anos, trazendo consigo uma filha, mudou-se para o Rio de Janeiro, formando nova família ao se casar com João Baptista da Silva, funcionário publico com quem teve 14 filhos. Continuou os preceitos do santo na casa de João Alabá, tornando-se Mãe-Pequena. Morou inicialmente na Pedra do Sal, Beco João Inácio, Rua da Alfândega, 304 e posteriormente na Rua General Pedra, Rua dos Cajueiros e mais tarde na Rua Visconde de Itaúna, residindo na Cidade Nova entre os anos de 1899 e 1924. foi uma das responsáveis pela sedimentação do samba-carioca e tornou-se uma espécie de primeira dama das comunidades negras da Pequena África.

O casarão era uma legítima casa de cômodos, com seus 6 quartos, 2 salas, um longo corredor e quintal com árvores (um abacateiro, ao menos). Parte da família seguiu, porém, morando na Rua da Alfândega: foi lá que em 1909 nasceu Bucy Moreira (músico e compositor), mesmo com a determinação de Ciata para que seu neto viesse ao mundo no casarão. Poucos meses depois, o futuro grande sambista mudou-se com a família para a Rua Minervina, perto da Praça Onze. . (A Visconde de Itaúna não existe mais, desapareceu quando das obras para a abertura da avenida Presidente Vargas).

Mulher de Grande Iniciativa

Ciata fez de sua vida um trabalho constante, tornado-se com as outras tias baianas, a iniciadora da tradição das baianas quituteiras no Rio de Janeiro, com suas vistosas roupas, colares e pulseiras, desenvolvendo uma atividade cercada por forte fundamento religioso.


Empresárias denominadas Tias Baianas

Nesse âmbito as tias baianas Ciata, Bebiana, Mônica, Carmem , Perciliana, Amélia, dentre outras, destacaram-se nas principais formas de organização e influência sobre a comunidade. Assim, essas mulheres recebem reconhecimento e respeito por suas posições centrais nos terreiros e por suas participações nas principais atividades do grupo, garantem a manutenção de tradições africanas, sempre reinventadas, guardando possibilidades de revitalização na vida da cidade. Transformaram suas casas, na área da Praça onze, em pontos de referência e convívio comunitários.

Inovadora e criativa

Tia Ciata passou também a confeccionar e alugar roupas de baiana feitas com requinte, para teatros e desfiles carnavalescos, não só para as “cocotes” chiques como também para homens, gente graúda que gostava de se travestir nos festejos de Momo. Sua morte, em 1924, encerraria uma época, à partir da qual progressivamente o negro passaria à freqüentar diferentes ambientes na vida cultural e social carioca.

Religiosidade e o Samba

Mãe-de-santo afamada, Tia Ciata festejava seus orixás, sendo famosas suas festas de São Cosme e Damião e de sua Oxum, Nossa Senhora da Conceição. Nas festas suas habilidades de partideira a destacavam nas rodas de partido-alto, e seu neto Bucy Moreira aprendeu com ela o segredo do "miudinho", uma forma de sambar de pés juntos que exige destreza e elegância, no qual Ciata era mestra.


Logo após a cerimônia religiosa, antecedida por uma missa cristã, músicos e capoeiras amigos da casa armavam um pagode com violões, pandeiros, ganzás e muito samba. Tia Ciata, partideira respeitada, não deixava o samba morrer, providenciando que as panelas sempre estivessem quentes, por vezes,promovendo em sua casa, saraus com chorões e bailes amaxixados no salão da frente, sem esquecer um bom samba lá no fundo do quintal, sempre com uma cerimônia de candomblé encerrando as festividades.

Sambista famosos na casa de Ciata

Se alguns podem ter ido para outro samba afamado da época, o de João Alabá, é certo que muitos preferiram a nova casa de tia Ciata, na Visconde de Itaúna, estrategicamente localizada perto da Praça Onze, da sociedade recreativa Paladinos da Cidade Nova - e, mais tarde, da sociedade carnavalesca Kananga do Japão (fundada como rancho em 1910). E bota "muitos" nisso: nos cerca de 20 anos que Ciata morou na Cidade Nova, freqüentaram sua casa outras tias baianas famosas na época - além de suas amigas que também eram filhas-de-santo de Alabá, acrescentem-se tia Dadá, Tia Amelia ( mãe do Donga), Tia Prisciliana ( mãe de João da Bahiana), tia Veridiana (mãe de Chico da Bahiana), tia Josefa Rica e tia Tomásia , o jornalista Vagalume, o ator Alfredo de Albuquerque e importantes nomes da música popular como Hilário Jovino Ferreira, Donga, Pixinguinha, João da Bahiana, Heitor dos Prazeres, Sinhô, Caninha, Didi da Gracinda, Marinho que Toca (pai do compositor Getúlio Marinho), Mauro de Almeida, João da Mata, João Câncio, Getúlio da Praia, Mirandella, Mestre Germano (genro de Ciata), China (irmão de Pixinguinha) e Catulo da Paixão Cearense.

Prestígio junto à Presidência da República

Se a medida de prestígio era o bom trânsito junto à Presidência da República, pode-se dizer que tia Ciata não tinha o que invejar em relação a Abedé. Ela foi chamada ao Palácio do Catete para tratar de uma ferida do presidente Venceslau Brás, que resistia a todos os tratamentos indicados pelos médicos. Curado por Ciata, Venceslau Brás expressou sua gratidão transferindo João Batista da Imprensa Nacional para a chefia de gabinete do chefe de Polícia. Assim, durante o mandato de Venceslau Brás (1914-18), as festas na casa de tia Ciata eram autorizadas, contando com o envio de dois soldados que iam fazer a segurança. (O prestígio da família com o poder sobreviveu a Ciata : em 1925, o chefe de Polícia conseguiu vaga para Bucy Moreira estudar na Escola Bom Jesus, em Paquetá, onde ele ficou até 1927.)

A casa da Tia Ciata, como descreve Roberto Moura

Se torna a capital dessa Pequena África no Rio de Janeiro. Esse grupo de origem baiana se constituía numa elite nessa comunidade que se desloca do Centro para suas imediações, forçada a se reestruturar dentro das grandes transformações das políticas internacionais e nacionais. engendrando conseqüente reforma da cidade.

BIBLIOGRAFIA e sites

ALENCAR, Edigar de. O Carnaval Carioca Através da Música. Rio de Janeiro: Francisco Alves, 1985. V.1

ALMIRANTE. No Tempo de Noel Rosa. 2ª ed. Rio de Janeiro: Francisco Alves, 1977

ALVES, Henrique. Sua Excelência o Samba. 2ª ed. São Paulo: Símbolo, 1976

CABRAL, Sérgio. No Tempo de Almirante. Rio de Janeiro: Francisco Alves, 1990

CABRAL, Sérgio. As Escolas de Samba do Rio de Janeiro. Rio de Janeiro: Lumiar, 1996

MOURA, R. 1983. Tia Ciata e a pequena África no Rio de Janeiro, Rio de Janeiro: Funarte/INM.

JOTA Efegê. Figuras e Coisas do Carnaval Carioca. Rio de Janeiro: Funarte


Vídeo Petrobrás Heróis no mundo

www.casadeculturadamulhernegra.org.br

www.palmares.gov.br

Eduardo Martins: "Bucy Moreira, o neto da Tia Ciata"

www.brasilescola.com

capoeira-infos.org